À boleia do 19!
Vera Garcia
Desde Março que me sinto uma espalha! Não uma espalha brasas, como a minha filha, mas uma espalha-bichos! É que a Estrada do 120 é longa, tem muitas curvas, paragens e apeadeiros. Em cada apeadeiro, uma desinfectadela! Esticamos as mãos, como se fôssemos receber a comunhão, splash, esfrega-te! Entra-se na sala, pega-se numa espécie gigante de limpa-vidros, cheio de desinfetante mata-bicheza e borrifa-se as mãozinhas pequeninas, muitas, muitas mãozinhas, que vêm ainda ensonadas e enregeladas, pela manhã.
Um dia destes, uma destas mãozinhas perguntou-me assim: "oh teacher, você só vem aqui?" - "Não, mãozinha, não venho só aqui, vou a muitos sítios, muitas escolas." - "Ahhhhh, é por isso que eu ponho a máscara, nunca se sabe, né!"
Pois é, mãozinhas, é isto mesmo! É que, neste momento, andamos todos à boleia do 19 e pomos a máscara de segurança, atestamo-nos bem de álcool gel e aceleramos bem, porque o importante é escapar, mas cumprir bem os sinais de distanciamento, para não embatermos no indesejado e não ficarmos com a viatura amolgada. E os abraços, os miminhos, uma festinha, um consolo? Levo a mão ao coração e digo que gosto muito de vocês, mãozinhas. E enceno muitos beijinhos, que a máscara não mostra, mas que vocês ouvem e mando-os todos pelo ar, porque estes beijinhos não contaminam. E, mais uma vez, como dizia o meu avô, o importante é escapar! Escapar, proteger e não negar!
Aos Educadores de Infância, Professores do 1o Ciclo, Professores de Educação Especial, Técnicos e Terapeutas, que lidam com mãozinhas pequeninas.