"Gritos mudos chamando..." à razão
Vera Garcia
Há quem escreva maravilhosamente quando está triste. Há quem sonhe o mais idílico poema quando as horas custam a passar...dei por mim a rodar o feed de notícias do facebook, vezes sem conta...nada mais há a espremer do que a revolta das pessoas, o ódio, o sarcasmo, o rir para não chorar, o "posso ou não posso fazer isto ou aquilo"...são tempos loucos, estranhos, castradores, medonhos, sem fim à vista. Pela primeira vez nesta vida, praticamente há um ano que sinto medo de ir trabalhar. E já me cansa o discurso repetitivo de uma consciencialização para o uso da máscara na sala de aula aos meus alunos de 3⁰ e 4⁰ anos. Esta banalização errada de que as crianças destas idades não necessitam de máscara...é um discurso em vão, o meu. Ninguém quer saber. A preocupação bate apenas nos mais crescidos e nos adultos. Tão errado...errado para os mais pequenos e para os adultos que estão com eles, na escola.
Não vou mais entrar por aquela porta e soprar vendavais sobre a forma como os governos sucessivos têm olhado e tratado toda a comunidade educativa. Não vale a pena. Somos filhos de um deus menor, mas ajudamos neste momento a levar um país às costas, sem reconhecimento, sem prioridade numa vacina, única coisa que nos podia mostrar uma pequena luz ao fundo do túnel. É nossa função...é. Chego a casa e tenho medo de abraçar a minha filha. Fujo dela, para ir às pressas despir a roupa do trabalho e desinfectar-me. Por hoje calo-me, porque a tristeza tem em mim esse efeito adverso. Torna-me muda, pensativa e inerte. E assim me sinto, inerte, ao sabor de um barco que navega sem leme, em direcção ao desconhecido.
Imagem retirada do google.