Para as mães que nasceram agora...
Vera Garcia
Não sou médica, não sou enfermeira, nem farmacêutica. Sou professora e só domino livros. Contudo, tenho uma coisa, que embora não seja minimamente agradável, apetrechou-me de algum conhecimento de causa: a experiência na privação do sono. Ultimamente tenho brincado com este assunto que é mais sério do que parece, numa de "rir para não chorar". Hoje resolvi dar seriedade a este aspecto e, embora saiba pouco da vida, nisto já sei demais.
Felizmente nem todas as crianças nascem com este "problema", de passarem e de darem "más noites". É frequente nos primeiros meses de vida os bebés terem despertares nocturnos para mamarem/beberem biberão, de duas em duas ou de três em três horas. Assume-se que após os primeiros seis meses de vida, estes pequenos seres comecem a sossegar. No entanto, nem sempre é assim. Por vezes, passam-se anos de más noites, seguidas, uma após a outra. Marcam-se as consultas do sono, dá-se Melamil aos bebés e, em caso mais extremo, o famoso Atarax, cuja contraindicação mais frequente é sedar a criança ou provocar-lhe um sono ainda mais agitado e pôr os pais com a consciência pesada. E, depois, surgem determinadas consequências desta privação de descanso. Certamente se falar em cansaço extremo, falhas de memória e de atenção, tristeza, irritabilidade e de alterações hormonais, muitas de vós que nasceram mães agora ou já há alguns anos certamente se irão identificar. A coisa tende a piorar, quando regressamos às nossas funções laborais e começam as obrigações de se cumprir horários, de chegarmos a horas ao trabalho, de deixarmos os miúdos na creche, o chegar a casa, fazer jantar, banhos, roupas, casa, etc. A vida pessoal deixa de existir, em todos os aspectos e sim, nesses que estão a pensar, também. Não há espaço/tempo/vontade para namoros e, garanto-vos já, não é só da parte feminina que acontece. A privação de sono e o cansaço extremo afecta a todos, em casa. A irritabilidade começa a despontar na mínima palavra dita, no mínimo olhar, na mínima blusa que deveria ter ido para dentro do cesto da roupa suja e ficou no chão, num mínimo respirar. E começam a corroer as palavras ditas a quente, a porta que se fechou com mais força, a ausência de um gesto de carinho, o choro da criança pelo meio e, sem se dar por isso, corre-se o risco de se entrar numa espiral perigosa, se os egos e as necessidades de apenas um dos elementos do casal forem satisfeitos ou atendidos. Começa a corroer a falta de intimidade, gentileza, compreensão e paciência entre os dois. E, depois, a mulher, que se vê gorda, feia, transformada em qualquer coisa que não é ela, que serve unicamente o propósito de ser mãe. Chega, diz ela! Tenho que pensar em mim! Então, começa a fazer dieta, inscreve-se no ginásio, vai comprar roupas novas, mas nada de jeito lhe serve e nem tem tempo de experimentar quase nada, porque a criança tem de comer, mudar a fralda, agora está a chorar, agora quer dormir, não pode dormir agora senão não dorme logo, etc, etc, etc! Entra em depressão momentânea, que se lixe, dias não são dias, e vai comer um hamburger! Quando sai do centro comercial, jura a ela própria que não voltará ali! Chega a casa, irritada e exausta e adormece o bebé. A sua noite acaba dentro de um par de horas. Volta a adormecer por volta das sete da manhã, mas daí a meia hora tem de se levantar. O que esta mãe não sabe é que também não consegue perder peso, porque as noites em privação total de sono lhe provocam alterações hormonais devido a um aumento de cortisol associado às "irritações" diárias. Pára de te culpar e de exigires demasiado de ti e pára de criar expectativas e levar tudo à tabela. Pede ajuda, se tiveres a quem pedir ajuda. Trabalha por turnos com o pai. Não aceites a desculpa de que tu é que tens as mamas, por isso... As outras coisas da casa podem e devem ser feitas pelo pai. Não sabe fazer o comer/passar a ferro? Aprende. O jantar hoje não está bom? Amanhã estará melhor! Não te sentes bem com o teu corpo? Espera. Há de chegar uma altura em que te sentirás melhor. Ninguém é Hércules, que consiga ter força para não dormir, trabalhar todo o dia, ir para o ginásio, fazer dieta, chegar a casa, fazer almoços e jantares e a chamada "lida da casa". Não entrem em depressões por não serem ricas. Sejamos ricas pessoas!
A mãe não dorme...